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Nós estamos aqui!


Obra: Nós estamos aqui - Acrílica sobre enciclopédia - 2023 - Paulo du'Sanctus

Todo artista negro, que um dia se deparou com a pintura “A redenção de Cam” (foto 2) de M. Brocos, 1895, certamente teve vontade de, um dia, responder a essa obra. Chegou a minha vez:


A original é um equívoco! Representa as ideias pseudocientíficas, raciais e eugênicas que eram difundidas no final do século XIX e início do século XX e a tentativa de "branqueamento da população".


A ideia central do projeto de branqueamento era a crença de que a mistura racial no Brasil, principalmente entre brancos, negros e indígenas, estava prejudicando o desenvolvimento do país. Alguns intelectuais e políticos brasileiros acreditavam que a miscigenação estava levando a uma suposta "degeneração" da população, e que o país deveria adotar políticas que promovessem a imigração europeia para "branquear" a população.


É importante notar que essas ideias não foram implementadas como políticas de estado FORMAIS, mas tiveram impacto nas discussões intelectuais e nas práticas sociais da época, por exemplo: Medidas foram tomadas para incentivar a imigração europeia. As ideias eugênicas, no entanto, influenciaram indiretamente questões como a imigração e o estímulo à miscigenação com europeus como uma maneira de "aperfeiçoar" a população.


Vamos ler as imagens?


A obra original apresenta uma mulher negra olhando para o céu em posição de agradecimento a Deus (a chamarei de vó). Ao centro uma mulher parda, com uma criança branca no colo (netinho) e a direita o homem branco (pai). A vó agradece a Deus pelo neto ter nascido branco. Dos adultos apenas a vó está descalça e pisa diretamente na terra simbolizando a posição social enquanto o homem pisa o chão pavimentado. Uma questão que podemos levantar é porque a moça (jovem mãe) não é retinta como a sua mãe? Quem conhece um pouco de história brasileira entendeu o que pode ter acontecido.


Na minha releitura, eu fiz questão de colocar todos os personagens negros, a mulher agradece a Deus, todos pisam o solo descalços simbolizando nossa ligação com essa terra, o vaso trincado pelas raízes que eclodem, e um “comigo ninguém pode” a direita para deixar a mensagem clara: Vocês não venceram, nós, pretos de todas as tonalidades, aqui estamos.

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